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Mergulhando: Cocos ou Revillagigedo?



Roca Partida
Símbolo de Revillagigedo


Como todo mergulhador sabe, os remotos pontos de mergulho costumam ser os melhores. E entre eles, há dois muito próximos de nós e que são adorados por todos os que gostamos dos "grandes encontros": A Ilha Cocos, na Costa Rica e o arquipélago de Revillagigedo no México (que os americanos chamam de Socorro Islands que, em verdade, é apenas uma das ilhas do arquipélado. O ideal é conhecer os dois. Contudo, se somente puder ir a um deles, essas são algumas informações que podem ajudar a decidir.

Antes de mais nada, é importante que eu diga que estive em Cocos em 2012 e em Revillagigedo em 2019. Uma diferença de tempo considerável. Mas é o que tenho para compartilhar.

Foto by J. Yaber
Para chegar a Cocos, que fica na Costa Rica, é necessário passar por San José, uma cidade com atrações culturais limitadas e muitas opções de turismo de aventuras e ecológico, daqueles de tirar o fôlego ou saciar a vontade de um bom café ou morangos de uma doçura que eu nunca havia experimentado. A navegação até Cocos é longa, cerca de 36 horas e, embora a minha travessia tenha sido muito tranquila, com mar calmo e tempo bom, há relatos de que nem sempre é assim.

Para chegar a Revilla (como carinhosamente chamamos), que fica na Baixa California (a Califórnia Mexicana), não encontrei voos diretos do Brasil, porque é preciso ir para Los Cabos. Precisei dormir na Cidade do México e outros do grupo preferiram cidades do sul dos Estados Unidos para a conexão. Los Cabos, mais precisamente Cabo de San Lucas que foi o que conheci melhor, é uma cidade vibrante, com muitos bares, casas noturnas, restaurantes e passeios cheios de gente alegre e de bom humor.  A navegação até o arquipélago de Revillagigedo dura cerca de 24 horas. A travessia foi também tranquila, embora nem tanto quanto fora em Cocos, mas, aqui, ao contrário, me foi dito que normalmente é assim, sendo mais difícil encontrar tempo e condições de mar ruins pelo caminho.

Na superfície, Cocos ganha fácil em minha opinião. Cenário que foi até utilizado no primeiro Jurassic Park (lembram do helicóptero chegando e se deparando com uma imensa cachoeira?), permite o desembarque em algumas ilhas e o passeio pelo seu interior. Uma Ilha linda, cercada de mata densa, muito verde ao redor, cachoeira e rios que, penso, são de água da chuva. Mas isso eu não sei direito  Já Revilla traz um cenário árido, que compensa com a revelação de que parte dela é geologicamente um bebê recém nascido, em razão de uma erupção ocorrida nos anos 50. 

Tive a sorte de estar no barco com um geólogo que me  explicou cada detalhe do que víamos, tornando muito interessante olhar para as ilhas. Mas se você não tem essa sorte ou não se interessa por geologia, verá apenas ilhas vulcânicas e superfícies que, para nós, são incomuns, mas nada atrativas. E não nos deixam desembarcar e, salvo uma das ilhas, ocupada por uma base militar, nem haveria mesmo o que ver.

Debaixo d’água, aí a escolha fica para o freguês. Eu decretaria um empate técnico. A água em ambos é de boa temperatura (para mim, 3mm com foram suficientes, usando algumas proteções a mais nos últimos mergulhos do dia) e de boa visibilidade. Nada como Caribe ou Maldivas. Longe disso, aliás. Mas em alguns dias chegou a mais de 30 metros em ambos. E se em Revillagigedo os encontros com Mantas, Golfinhos, Tubarões-Baleia e dezenas de tubarões nos encantam tremendamente, em Cocos os constantes cardumes de tubarões-martelo ou galapenhos e a presença imponente de tubarões-tigre sempre com mais de 4 metros, colocam pesos iguais na balança, ainda que as Mantas não tenham aparecido nos nossos mergulhos daquela semana em Cocos. Em ambos tivemos encontro com golfinhos. Mas os de Cocos são tímidos, enquanto os de Revillagigedo… ual! Sempre vêm para brincar com a gente. Uma interação ímpar. Por outro lado, ao menos em 2012, podíamos fazer mergulho noturno para observar os tubarões em sua caçada noturna para alimentação. Normalmente galhas-branca. Em Revillagigedo pudemos fazer apenas um bem controlado e iluminado snorkeling noturno com uma boa quantidade de tubarões-silk nem um pouco tímidos
Foto by Janleide
Eles caçavam peixes voadores e outros que a iluminação do barco atraía, muitas vezes literalmente passando por cima de nós.
As operações de mergulho são similares. Em ambas saímos do confortável barco em que vivemos ao longo da semana, para botes que nos levam, em conforto precário, para os pontos de mergulho. Ligeira vantagem para Revillagigedo, porque os pontos ficam mais próximos do local de atracação do barco. Já quanto aos guias, isso depende muito do fator humano envolvido e seria injusta qualquer comparação. Mas lembro que em Cocos os grupos eram maiores e o guia normalmente o mesmo, enquanto em Revillagigedo, grupos bem menores com rodízio de guias.

Não farei comparações entre os serviços e comodidades nos barcos. Isso dependerá sempre da companhia que você escolher. Em Cocos fiquei em barco da Aggressor e em Revillagigedo em barco da Nautilus. Excelente a atenção recebida em ambos. Mas uma coisa me chamou a atenção: a rede Aggressor te envia um e-mail perguntando o que você quer ter no barco. Eu pedi manteiga sem sal e leite (na época ainda bebia leite) desnatado. Encontrei ambos em todas as refeições, apesar dos risos iniciais e cara torcida para a manteiga sem sal nos primeiros dias, logo seguidos por pilhagem explícita dos meus pedidos (rsrsrs).

Por fim, claro, meu voto: Se eu puder voltar a ambos, voltarei. Se tiver apenas uma opção, não terei dúvidas: Revillagigedo ganhou meu coração.

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